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Também novo era o Gabinete Médico-Legal, ao qual competia a realização de exames
de corpo de delito, autópsias, verificação de óbitos, exumações, análises toxicológicas,
exames de indivíduos suspeitos de sofrer das faculdades mentais e outros serviços
determinados pelo chefe de Polícia.
Mais mudanças aconteceram a partir de 1903 em decorrência das reformas
urbanas realizadas durante a presidência de Rodrigues Alves e a administração de
Pereira Passos no Distrito Federal. As obras de modernização do porto, demolições de
prédios, abertura de avenidas, o programa de saneamento da cidade e a erradicação da
peste e da febre amarela foram realizados ao lado de tentativas de transformar antigos
hábitos populares “considerados indignos de figurar no contexto da cidade saneada e
civilizada” (BENCHIMOL, 1992, p. 284-285). Nesse momento foram proibidas
diversas práticas como a mendicidade pública, já condenada pelo Código Penal, e o
entrudo, e ordenada a proibição de festas populares e a perseguição de cultos religiosos
de origem africana e o candomblé, o que conferiu maior relevância à ação policial na
manutenção da ordem da cidade (Idem, 277-278; 284-185; SEVCENKO, 1999, p. 33).
Em 1903, o decreto n. 4.763 determinou uma reestruturação do Serviço Policial
e criou o Gabinete de Identificação e Estatística, com finalidade de formular um modelo
preventivo de combate ao crime e à desordem com um respaldo científico (THIESEN;
PATRASSO, 2012, p. 84-87). O Gabinete tinha como atribuições a execução de
serviços de estatística policial e criminal, a identificação obrigatória de todas as pessoas
detidas, salvo os casos dispostos na lei, a verificação da identidade dos cadáveres
desconhecidos e a realização da fotografia do local do delito.
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Junto com o Gabinete
Médico-Legal, o Gabinete de Identificação e Estatística atraiu a atenção das elites ao
reunir o trabalho policial com as referências científicas em voga no final do século XIX
(BRETAS, 1997b, p. 67).
Ainda em 1903, o decreto n. 4.780 estabeleceu a Escola Correcional Quinze de
Novembro, subordinada diretamente ao chefe de Polícia, que tinha a seu cargo oferecer
educação física, profissional e moral aos menores abandonados e recolhidos, atuando
como uma forma de prevenção ao crime “como se a essa instituição coubesse sustar e
modificar um perigo pressentido” (VIANNA, 1999, p. 63).
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O armazenamento das informações obtidas pela identificação datiloscópica dotou o Gabinete de um
banco de dados com o objetivo de reunir registros referentes às ações policiais, que desempenhou um
papel importante como centro difusor da ciência criminal (THIESEN; PATRASSO, 2012, p. 90).